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Como a convivência escolar é afetada pela cultura digital?

*Artigo de Camila Fattori

Qual o nosso papel enquanto adultos, educadores e familiares, em orientar crianças e jovens no uso da internet nesse mundo em que os limites entre a vida real e a vida no digital estão cada vez mais tênues? Essa questão tão presente na educação contemporânea tem feito parte das nossas reflexões na CE CEDAC e foi tema de um dos encontros com educadores de diversos municípios, momento que organizamos para discutir os desafios da convivência escolar.

Sabemos que cada vez mais nos vemos, nos comunicamos, nos relacionamos por meio das telas, e observamos como essa intimidade com o digital pode ser fantástica, mas também terrível (confira no artigo “Celular maldito e maravilhoso: gestão dos dilemas de uso”, de Tereza Perez). A internet é composta por ruas que levam a muitos lugares. Muitos deles trazem oportunidades interessantes e sadias como a convivência com parentes e amigos que estão distantes, a cultura da colaboração, o acesso ao conhecimento, a oportunidades culturais e à participação em serviços oferecidos pelo Estado. Mas algumas avenidas levam a becos digitais perigosos e esses estudantes, cada vez mais isolados em seus quartos, podem estar diante de perigos sem que se deem conta.

Estamos na chamada Sociedade da Informação (SI), marcada pelas relações digitais e caracterizada também por:

  • Complexidade, interdependência e imprevisibilidade que presidem as atividades e as relações dos indivíduos, dos grupos, das instituições e dos países;
  • Informação, excesso de informação e ruído. A informação é matéria-prima na SI;
  • A rapidez afeta praticamente todos os processos e aspectos envolvidos na SI;
  • Escassez de espaço e de tempo para a abstração e a reflexão;
  • Proeminência da cultura da imagem e espetáculo, contribuindo para desenvolver nas pessoas determinadas maneiras de agir, pensar e sentir. (Coll e Monereo, 2010).

Essas características da Sociedade da Informação podem potencializar os atos de violência.

Um trabalho do GEPEM (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Moral), formado por pesquisadores de diferentes instituições de estudo e pesquisa, identificou que parte dos autores dos ataques mais recentes às escolas participavam de grupos digitais que cultivam uma subcultura extremista, com disseminação de discurso de ódio e glorificação da violência.

A especialista Telma Vinha, pesquisadora da Unicamp que coordena no Gepem a linha de pesquisa “As Relações Interpessoais na Escola e o Desenvolvimento Moral”, indica que é importante compreender que essas comunidades funcionam como um espaço de acolhimento para pessoas que muitas vezes não se sentiram acolhidas em outros espaços, como a escola. Ela explica que os líderes dessas comunidades são muito hábeis em identificar potenciais membros, inclusive em outros espaços virtuais como jogos on-line, e convidá-los a fazer parte desses grupos. Então se utilizam de fatos e sentimentos dessas pessoas, para compor relações com a mentalidade extremista, insuflando a violência.

Se as violências observadas recentemente nas escolas ocorrem no contexto dessa sociedade da informação e a cultura digital atravessa a convivência escolar, somos convocados a pensar sobre:

  • Os relacionamentos entre estudantes e deles/as com professores: Que combinados envolvem o uso do celular na escola? Como educar para as interações virtuais e como preservar as interações presenciais? Como tempos e espaços físicos e espaços virtuais constituem a escola de hoje?
  • As formas de ensinar e aprender: Como as tecnologias da informação e comunicação podem ser usadas de forma a potencializar a aprendizagem e que formação favorece isso? Como os saberes de estudantes nessas tecnologias podem ser valorizados?
  • A segurança de crianças e adolescentes: Quais são os riscos potenciais no uso das tecnologias e como dialogar sobre eles com toda a comunidade escolar? Como orientar sobre a prevenção e também sobre o que fazer em caso de violência?

Estas e outras questões relacionadas devem integrar as pautas de estudo e planejamento da comunidade escolar, seja nos encontros formativos com a equipe docente, nas reuniões com familiares, nos encontros do conselho escolar e também com estudantes. Esse assunto pode ser desafiador, mas se as/os profissionais da escola não puderem abordá-lo, como lidaremos com esse fenômeno?

Nesse sentido é importante fortalecer esses profissionais para que possam também colaborar entre si, por meio da troca de pensamentos e estratégias, como vimos acontecer nos três encontros do nosso Ciclo de Debates sobre Convivência Escolar. Ouvimos relatos preocupados, mas também percebemos o quanto essas/es educadores estavam mobilizadas/os para reverter essas situações e promover uma convivência sadia para a escola, o que é fundamental para que ela efetive seu importante papel social de educar para a convivência em sociedade.

Referências:

– COLL, Cesar e MONEREO, Carles. Psicologia da Educação Virtual: Aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010.

Reportagem “Rede sem lei: no Discord, criminosos violentam e humilham meninas menores de idade”, Fantástico.

Webinário “Ataques violentos às escolas no Brasil: um fenômeno a ser enfrentado”, promovido pelo Instituto Vera Cruz, com palestra de Telma Vinha com base em estudo do GEPEM (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Moral).

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