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Por uma educação transformadora

A primeira decisão dura da pandemia, quando ainda não sabíamos tudo o que vinha pela frente, foi o cancelamento do III Seminário Internacional Arte Palavra e Leitura a menos de uma semana de seu início.

Havíamos preparado uma programação para abordar os desafios, as possibilidades e as contradições de uma “educação transformadora” em um momento em que a escola já estava sob ataque. Inscrições esgotadas, convidados a caminho de diferentes partes do mundo, o belo palco do Teatro Paulo Autran para nos receber, tudo estava pronto para o que esperávamos ser o terceiro ano de um evento que nos ofereceu tantos encontros, tanta reflexão!

A pandemia avançou e ficou evidente que a discussão que estávamos propondo se fazia cada dia mais urgente e que tínhamos que promovê-la ainda que em outro formato. Um ano depois, em março de 2021, realizamos a edição especial on-line. Adequamos as mesas, agregando aos temas novos contornos, mais dramáticos, dados pela pandemia.

A mesa sobre o legado de Paulo Freire, que desde a programação inicial abria o seminário, só teve a sua atualidade confirmada. Abdeljalil Akkari nos ensinou que “é necessário não repetir Freire, mas reinventar Freire”, que suas ideias agorapodem encontrar vazão na sociedade civil, nos falou sobre a necessidade de superar o ódio que divide o mundo em duas partes que não têm diálogo.

Mas o pensamento de Freire não esteve presente apenas na primeira mesa, foi lembrado, celebrado, vivenciado ao longo dos quatro dias do Seminário. Apareceu nas palavras da jovem poeta Tawane Theodoro, durante a mesa “O valor da escola pública para além da pandemia”, quando ela contou sua experiência na escola: “Fui formada na educação, na escola, como um ser humano”. Grande estrela dessa edição e alvo de tantos ataques no Brasil atual, a escola pública foi retratada na sua potência transformadora por Tawane e pelo escritor Rodrigo Ciríaco, mas também pelo prisma crítico da pesquisadora Rosa María Torres, que nos lembrou das ameaças ao direito fundamental à educação no Brasil e no mundo.

A mesa sobre “Educação e tecnologia”, que já havia sido prevista pelos enormes desafios que existem nessa relação, tornou-se obrigatória, considerando de um lado a escalada monumental do uso de tecnologias digitais na educação, especialmente nas escolas particulares, e de outro a abissal desigualdade de acesso a esses instrumentos por parte dos estudantes da escola pública. Pudemos olhar para o uso dessas ferramentas (e não só as digitais) como algo inerente à educação pela fala elucidativa de Inés Dussel e, ao mesmo tempo, conhecer a capacidade de reinvenção dos professores brasileiros na figura de Glauco Ramos.

Por fim, a discussão que não pode faltar nesse Seminário da Arte, da Palavra e da Leitura: “Que leitores queremos formar?” também ganhou novos desafios na pandemia, não só pela maior dificuldade de acesso a livros e ao contato com mediadores, como pela adoção de políticas de formação de professores que vão na contramão da formação de um leitor de mundo.

Usando as palavras de Luciana Gomes, que sintetizou tão bem o leitor que queremos, “esse leitor futuro que estamos projetando tem que ser um leitor que olhe para o passado e diga: ‘Não me reconheço nessa história, não me reconheço nesse contexto político, não me reconheço nessa literatura’. Que tenha consciência de seus direitos, que possa acessar, que possa questionar o que está posto. Quando penso no leitor futuro, para além desse leitor literário, penso num leitor de direitos, num leitor de situações, um leitor histórico”.

Foi um privilégio enorme promover mais esse seminário ao lado de nossos parceiros – Itaú Social e Sesc São Paulo. Nas próximas páginas vocês terão oportunidade de ler o registro das mesas. Esperamos que esta publicação sirva para fazer essas discussões chegarem a um número ainda maior de pessoas.

Em tempo: é possível assistir todas as mesas integralmente acessando o link.

Dolores Prades e Tereza Perez
Instituto Emília e Comunidade Educativa CEDAC

(Texto de apresentação da publicação)

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