Os Arranjos de Desenvolvimento da Educação (ADEs) reúnem municípios de um mesmo território com o objetivo de elevar a qualidade educacional e promover a aprendizagem das/dos estudantes que ali vivem, estimulando o pensamento coletivo e a troca de experiências e saberes para resolver problemas que ultrapassam as fronteiras municipais.
Com a construção de vínculos de confiança entre as cidades participantes, os ADEs permitem que os territórios avancem juntos e fortalecidos. Sozinho, cada município enfrenta dificuldades maiores ao lidar com desafios complexos, como formação docente, infraestrutura escolar e criação de políticas educacionais eficazes.
O Programa Suzano de Educação, que conta com a parceria técnica da Roda Educativa e da Cidade Escola Aprendiz, reconhece a potência dessa forma de organização e apoia, desde 2020, cinco Arranjos que reúnem 24 municípios nos Estados da Bahia, Espírito Santo, Maranhão e Mato Grosso do Sul. Com representantes das Secretarias Municipais de Educação, Saúde e Assistência social, eles escolheram nomes que representam suas identidades territoriais para os ADEs: Abr’olhos/BA; ADERA/MA (ADE da Região dos Açaizais); Conexões do Itaúnas/ES; GRIFE (Grupo Intersetorial para o Fortalecimento Educacional) Costa Leste/MS (foto); e Piraquê-Açú/ES.
“A educação é uma prioridade para a Suzano”, afirma Ana Luiza Reis, da área de desenvolvimento social, destacando o comprometimento da multinacional em contribuir para o aumento do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) nessas regiões e impulsionar a qualidade da educação pública.
Os Arranjos também promovem ações intersetoriais, fortalecendo a colaboração entre as equipes de Educação, Saúde e Assistência Social em cada município. Esse intercâmbio facilita a compreensão das realidades vividas pelas/os estudantes e suas famílias, propondo soluções mais completas e integradas na garantia dos direitos e no fortalecimento da rede de proteção.
Pedimos às/aos representantes que escolhessem uma palavra que definisse a experiência de fazer parte dos Arranjos de Desenvolvimento da Educação. As respostas foram: “coletivo”, “colaboração”, “transformação”, “crescimento” e “integração”.
Eliane Coelho, dirigente municipal de Bom Jesus das Selvas no Maranhão, pontua a importância do trabalho conjunto entre os municípios, unindo esforços para atingir objetivos comuns na educação. Ela compartilha como a troca de conhecimentos, experiências e recursos fortalece as políticas educacionais locais, melhorando a qualidade do ensino. “Quando trabalhamos juntos, multiplicamos nossas possibilidades de impacto positivo.”
A coordenadora do projeto na Roda Educativa, Angela Luiz Lopes, explica que uma das estratégias para dar sustentabilidade ao trabalho durante as mudanças de governo foi a construção do Memorial de Gestão do ADE, documento que inclui, entre as ações de cada município, as conquistas alcançadas por meio dos ADEs. “O Memorial permite que a nova gestão tenha acesso de forma sistematizada a tudo que foi discutido e decidido no contexto dos Arranjos e dá a dimensão da importância desse trabalho para o desenvolvimento técnico das equipes e das melhorias efetivadas nas redes”, afirma.
Angela destaca ainda a estrutura de governança criada nos Arranjos como um resultado de amadurecimento do trabalho colaborativo, que possibilitou uma maior clareza do escopo de atuação dos Arranjos e das responsabilidades das equipes técnicas junto aos outros municípios e na implementação das ações nas suas próprias redes. Por meio do PSE, os municípios mantêm um cronograma de encontros intersetoriais e intermunicipais, e realizam discussões a partir das dimensões de aprendizagem e territórios educativos, para as quais a análise de indicadores educacionais e sociais têm sido uma importante estratégia.
A dirigente educacional de Inocência/MS, Adriana Franco, enfatiza que os encontros com equipes de outras cidades permitiram o compartilhamento de casos de sucesso que serviram de norte para aprimorar as práticas em sua própria cidade. Para o dirigente de Mucuri/BA, Dalmo Costa, o aprendizado e a implementação de novas práticas transformaram não apenas a educação, mas também as pastas da Saúde e da Assistência Social. Ele afirma que o ADE possibilitou melhorias na gestão pública, atração de investimentos, fortalecimento de práticas pedagógicas, formação de professoras/es e gestoras/es, além de uma integração mais efetiva entre escolas e comunidade.
Quando indagados sobre a continuidade dos Arranjos nesse ano em que tivemos eleições municipais e muitas gestões serão trocadas, todos são enfáticos em afirmar que romper com o que já foi conquistado seria um retrocesso.
Para o secretário de Educação de Montanha (ES), Marcelo Lirio da Silva, a continuidade do trabalho em Arranjo é importante para que as ações desencadeadas ao longo dos quatro anos se consolidem como política pública e não como ação de um governo, e sigam alcançando educadoras/es e estudantes.
A dirigente de Aracruz/ES, do ADE Piraquê-Açú, Jenilza Spinassé, reforça que manter o Arranjo ativo é fundamental para potencializar as ações em andamento. Dalmo Costa também vê a necessidade de continuar o ciclo de melhoria contínua na educação dos municípios envolvidos. Para ele, é preciso preservar essa rede de cooperação, que promove uma visão de educação que ultrapassa fronteiras geográficas, buscando equidade entre os municípios e estabilidade nas políticas educacionais.
No Brasil, onde a qualidade da Educação Básica muitas vezes reflete a luta isolada dos municípios contra desafios financeiros e técnicos, a colaboração intermunicipal dos ADEs é uma oportunidade de profissionalizar a gestão educacional, permitindo que cidades compartilhem recursos, conhecimentos e práticas. Esse processo exige tempo, mas, como diz o professor Dalmo, já existe “uma base sólida de sustentabilidade com o fortalecimento de redes de colaboração”, que envolvem a formação de profissionais, com seu “empoderamento contínuo e o aumento da confiança e credibilidade”.