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Foto de Gustavo, um garoto de pele negra e cabelos curtos cacheados, sentada ao lado de Vera, uma senhora de pele branca e cabelos grisalhos bem curtos. Na mesa à frente deles, há livros diversos com ilustrações.
13/09/2024

Resultados do Myra mostram evolução das competências leitoras das crianças participantes

Foto de Gustavo, um garoto de pele negra e cabelos curtos cacheados, sentada ao lado de Vera, uma senhora de pele branca e cabelos grisalhos bem curtos. Na mesa à frente deles, há livros diversos com ilustrações.

Por Cris Marques

O Programa Myra – Juntos pela Leitura promove sessões semanais de leitura individuais entre pessoas voluntárias e estudantes da rede pública desde 2016. E, nestes oito anos, a evolução das crianças e adolescentes participantes em relação às suas competências leitoras é acompanhada por meio de avaliações feitas no início e ao final de cada ano.

A iniciativa é inspirada pelo Lecxit – leitura para o êxito escolar, da Espanha, que foi trazido para o Brasil pela Fundação SM por meio de uma parceria técnica com a Roda Educativa (então CE CEDAC), que desenvolveu uma metodologia própria para o contexto brasileiro. Hoje, o programa está inteiramente sob a gestão da Roda, que o implementa em parceria com escolas, instituições (Pontos Myra) e empresas interessadas em adotar um programa de voluntariado corporativo qualificado (caso da FTD Educação).

“Ainda que a gente saiba que é um programa com resultado garantido, todo ano nos surpreendemos e nos emocionamos com o avanço que as crianças e adolescentes participantes têm, especialmente quando a gente faz a comparação também com a evolução do restante da turma”, conta a coordenadora pedagógica na Roda Educativa que está à frente da iniciativa, Gisele Goller. “Isso é fruto dessa tecnologia social que permite essa relação um a um, essa escuta atenta que o voluntário tem com a criança semanalmente, que presta atenção nas suas opiniões, nas suas ideias, que confirma ou que argumenta junto, que traz um outro ponto de vista.”

O programa utiliza algumas ferramentas importantes para o acompanhamento das/os participantes, como a avaliação escrita das habilidades de leitura, aplicada pelo Ponto Myra, e a avaliação de leitura em voz alta, preenchida pela pessoa voluntária com as respostas da/o estudante com quem ela faz dupla. Há também formulários que têm como objetivo uma autoavaliação da criança, da/o voluntária/o e da formação de vínculo entre ambas/os.

Para esse monitoramento, Gisele explica que é aplicada uma avaliação inicial para todas/os as/os estudantes do 4º ao 6º ano das escolas parceiras ou que frequentam os Pontos Myra. A partir da análise do desempenho nessas avaliações é feita a seleção daquelas/es que são candidatas/os para participar do programa e as sessões só começam depois que as/os alunas/os e suas famílias aceitam o convite. Ao final do ano, o grupo que fez a prova inicial também faz a final. “Assim, conseguimos comparar a progressão dos ‘alunos Myra’ com os ‘alunos não Myra’”, indica Gisele.

Confira alguns dos resultados de 2023 nos três gráficos abaixo:

 

Criação de vínculo entre a dupla

“O programa tem vários benefícios, mas certamente a grande sacada é essa possibilidade de ter uma pessoa inteirinha para você, inteirinha te escutando e também dando suas opiniões, uma troca muito potente. E a gente sabe que para além da evolução das crianças, os voluntários também avançam muito na sua experiência de leitura”, enfatiza a coordenadora Gisele.

E isso pode ser percebido no vínculo criado entre as duplas, que é, inclusive, uma das métricas avaliadas pela equipe do Myra a partir do questionário preenchido individualmente pela dupla e que, posteriormente, tem seus dados cruzados.

 

Em 2023, por exemplo, a taxa de vínculo média chegou a 85%.

Foto de Vera, uma senhora de pele branca e cabelos grisalhos bem curtos, ao lado de Gustavo, um garoto de pele negra e cabelos curtos cacheados. Atrás deles há duas estantes repletas de livros.

Gustavo França, de 14 anos, é aluno da EE Carlos Maximiliano Pereira dos Santos, mais conhecida como escola Max, e participa há dois anos e meio do Myra e relata o seu avanço. “É legal participar e sinto que estou melhorando mais e mais na leitura também. Antes eu não queria ler. A professora pedia, mas eu não conseguia, pois tinha vergonha de ir lá na frente, de errar a palavra. Agora, às vezes nem precisa pedir, eu estou pedindo para ler”, relata o garoto.

A sua dupla, a voluntária Vera Regina Whitaker Carneiro Gracitelli, confirma. “No final do primeiro ano, ele não quis participar do sarau, assim como evitava ter que ler na classe. No ano passado, aceitou participar e leu para uma grande plateia no teatro da escola. Acredito que são vários os fatores que contribuem para a evolução de meu companheiro de leitura. Inicialmente, quando ainda não tínhamos criado vínculo, a regularidade das sessões e o nosso empenho para termos um bom encontro foi essencial.”

Ela conta que nesse tempo de convívio, acredita tê-lo encorajado, o desafiando gradualmente, respeitando o seu tempo e avançando sem pressioná-lo. “O respeito trouxe segurança e confiança, abrindo espaço para criamos vínculo, o que tornou as sessões interessantes e produtivas. A mediação é primordial, se adapta ao contexto do livro que estamos lendo, que pode levantar questões que buscamos resolver, assim como troca de vivências e preferências sobre os assuntos suscitados. Lemos e conversamos sobre os livros ou qualquer tema que ele demonstre interesse e curiosidade. A cada leitura descobrimos temas para pesquisar e discutir. A família o estimula e dá apoio, contribuição importantíssima para o desenvolvimento, a dedicação e empenho que sinto”, enfatiza.

Acompanhamento dos Pontos Myra

Para compreender como essa evolução é perceptível e acompanhada pela escola da/o estudante que participa do Myra, conversamos com a educadora Maria Emilia Alves da Silva Barbosa, que é coordenadora de gestão pedagógica geral na Max, onde ocorrem as sessões de leitura do Ponto Myra do Grupo de Apoio à Escolarização Trapézio, como a do Gustavo e da Vera.

Ela explica que o acompanhamento das crianças participantes vai além das avaliações do programa somando-se à observação dos/das estudantes nas aulas, às provas aplicadas na própria escola e pelas avaliações externas. “Estamos sempre monitorando nossos alunos e também conversando com as pessoas voluntárias do Myra, ouvindo suas devolutivas e pensando em conjunto qual seria a melhor ação para cada caso. E isso faz toda a diferença na rotina desse estudante, tanto na escola, como fora dela. A criança em que desperta o gosto pela leitura, tem muito mais facilidade para aprender, argumentar, ampliar seu conhecimento, levar uma boa conversa com os amigos, pesquisar e elaborar um bom trabalho para um professor, apresentar um seminário em sala de aula, enfim, só benefícios”, diz.

Para a gestora do Ponto Myra Trapézio, Isabel Moreira Ferreira, o programa traz ganhos importantes em relação a vários aspectos presentes nas competências leitoras das crianças participantes. “Ler e conversar sobre o que se lê com um leitor proficiente que gosta de ler e que estabelece um bom vínculo de trabalho conjunto faz toda a diferença. Esse leitor torna-se inspiração e ao mesmo tempo ajuda a criança a se construir enquanto leitora. Além de ser uma atividade com uma continuidade semanal e com o mesmo voluntário, o que fortalece essa cumplicidade em torno dos textos e leituras. Outro fator que colabora é o fato de não estarmos ali como professores com uma expectativa pedagógica prévia, já que, nesse sentido, essas leituras não valem nota. Estamos ali como leitores em busca do prazer compartilhado pela leitura.”

Ela conta que os retornos que recebe são muito positivos. “As crianças se sentem mais confiantes para emitir suas opiniões a partir do que leem, além de se sentirem mais encorajadas a ler na frente dos colegas, coisa que muitas vezes não acontecia anteriormente. Algumas, que se mostravam muito tímidas no início do trabalho, apresentam ganhos significativos na capacidade de se colocar diante dos outros e expressar o seu ponto de vista a partir de suas leituras. Em relação aos voluntários, aparecem relatos de satisfação em acompanhar os ganhos e as superações de alguns obstáculos enfrentados e por fazer parte da formação leitora dessas crianças. Já a escola traz a importância de observar os ganhos de maturidade leitora dessas crianças. Outro aspecto observado pelos professores é relativo à melhora no desempenho também de outras disciplinas”, finaliza.

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