Para que a coordenação pedagógica possa exercer seu papel na formação da equipe docente, é fundamental que tenha instrumentos para acompanhar as práticas de ensino e que assegure espaços para compartilhar suas observações com professoras e professores de forma que essas/esses profissionais possam rever e ajustar suas intervenções.
Chamamos de “devolutiva” esse procedimento metodológico, em que a/o coordenadora/or assume seu papel formativo de contribuir com as/os docentes, apresentando elementos que as/os apoiem no planejamento e/ou replanejamento das situações de ensino, tomando por base a reflexão sobre a prática.
Ao longo do processo formativo, há diferentes situações em que coordenação pedagógica e professoras/es se reúnem para discutir a prática docente e, para elaborar a sua devolutiva, a coordenação pode se apoiar na observação em sala de aula e/ou em documentos elaborados por docentes, como relatórios e planejamentos.
A qualificação das devolutivas é uma marca nas formações da Roda Educativa. Stefany Cavalcanti Gonçalves Duque, assessora pedagógica (função equivalente à da coordenação em outras redes), na EMEI Professora Maria Seabra de Castilho Bianco de Potim/SP – município que participa do Projeto Pequenos Leitores – relata a diferença que sentiu entre fazer comentários orais sobre a prática docente, como fazia antes, e compartilhar uma devolutiva escrita.
“A gente chamava o professor e conversava sobre a prática dele. Mas a devolutiva escrita foi uma coisa inovadora que a gente aprendeu com a Roda Educativa. Tem muita diferença, porque quando a gente coloca no papel, consegue organizar melhor os pensamentos, o conteúdo para passar para o professor. O que ele precisa mudar ou o que ele precisa acrescentar na prática dele”, explica ela, acrescentando que a devolutiva melhora a sua própria atuação enquanto assessora.
A educadora conta que as/os próprias/os professoras/es passaram a “cobrar” a devolutiva. “Quando a gente vai lá na sala [do professor] e assiste à aula, ele fica esperando o que a gente vai falar, porque já é uma prática que está inserida. Então eles cobram da gente isso. E isso é muito enriquecedor pra ambos os lados.”
O depoimento de Stephany aponta para a importância para toda a equipe de formalizar esses momentos formativos. Afinal, as discussões sobre a prática precisam ser organizadas de forma profissional, para não serem interpretadas como questões de cunho pessoal, nem dar margem a opiniões em detrimento de análises fundamentadas.
Para ajudar quem está na coordenação a refletir sobre esse processo, consultamos duas das nossas especialistas em formação docente – Thaís Ciardella e Renata Caiuby – para trazer algumas características de uma boa devolutiva, entendendo como boa a situação que contribui para a/o docente aprimorar a sua atuação.
Confira abaixo cinco pontos fundamentais a serem observados:
1. “Devolutivas não são meros elogios ou jogos de sete erros”
É importante que elas não sejam simplesmente elogios das práticas das/os professoras/es, ou se reduzam a apontamentos do que deu certo e o que deu errado. Precisam provocar o avanço da prática docente por meio de análises coletivas e individuais e de boas perguntas, como, por exemplo, questionamentos que a/o façam justificar sua prática, identificar e compreender as mais ou menos adequadas, as que contribuem para as aprendizagens das crianças e replanejar ou planejá-las.
2. “Conversa no corredor não vale como devolutiva”
Como uma prática formativa, ela precisa fazer parte da cultura da escola! Agendar reuniões com tempo e espaço adequados para a troca entre coordenação e docentes envolvidas/os é uma maneira de assegurar o compromisso formativo. Além disso, é necessário um distanciamento da prática para que seja possível pensar de maneira reflexiva sobre ela.
3. “Escute professoras/es e estudantes envolvidas/os!”
Coletar mais de um ponto de vista é uma maneira de construir dados e de fundamentar uma devolutiva! Vale, também, lembrar que a devolutiva formativa prevê uma troca entre coordenação e professoras/es, portanto, assegure tempo para escutar o que elas/eles têm a trazer sobre a própria prática.
4. “Eleja focos”
A devolutiva é formativa quando há um foco conhecido por todas as pessoas envolvidas. Pontue com assertividade qual prática você está analisando mais de perto. Essa priorização pode ser feita na relação com o plano de formação da escola e com os assuntos que já estão sendo discutidos com professoras/es, por exemplo.
5. “Registre sua devolutiva por escrito”
Ao escrever, a coordenação pedagógica constrói memória sobre o conhecimento produzido. Além disso, fortalece o compromisso com a escrita profissional de gestoras/es e professoras/es!
A devolutiva é uma das estratégias formativas exploradas no curso autoformativo da Roda “Desafios da coordenação – plano de formação, observação e devolutiva”, que está com inscrições abertas pelo nosso site. Ele foi desenvolvido pela nossa equipe pedagógica, com base em mais de 25 anos de experiência com a formação de profissionais de redes públicas de educação, e conta com a autoria de Thaís Ciardella.
Foto: Compondo Ideias