“Contar é muito, muito dificultoso. Não pelos anos que se já passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas – de fazer balance, de se remexerem dos lugares. O que eu falei foi exato? Foi. Mas teria sido? Agora, acho que nem não”. Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, nos apresenta Riobaldo, um personagem com uma narrativa que é tão descontínua e lacunar quanto a memória humana. Considerando que a memória é seletiva, justificam-se as interpolações, as digressões e antecipações da narrativa feita por Riobaldo, que muitas vezes a
interrompe para fazer reflexões metafísicas e existenciais. Contudo, ele é consciente dos frequentes desvios na sequência dos acontecimentos que faz em sua narrativa e é por isso que nos adverte como fez nesse trecho: contar é muito, muito dificultoso.

Se tivermos que recorrer somente à memória para resgatar acontecimentos e fatos importantes, sempre vamos concordar com Riobaldo. É dificultoso, sim. Diante do imenso volume de informações às quais somos expostos todos os dias e em diferentes contextos, cada um de nós, em suas experiências pessoais, pode identificar o tanto delas que “se perdem” por aí. O que conseguimos guardar? O que necessita de registro para que não se perca? Os álbuns com fotos de família, as cartas e mensagens um dia trocadas, os vídeos que guardam momentos. Que lugares eles têm em nossas vidas e para que servem? Dentre as muitas respostas pessoais
possíveis, apontaremos uma: para preservar a memória de nossa passagem pela vida.

E na escola? Como registramos a memória da passagem dos estudantes em seus processos de formação? Como avaliamos e como acompanhamos as aprendizagens dos estudantes ao logo de sua vida escolar? Essas três questões serão guias para as reflexões propostas neste texto, que tem o objetivo de articular os processos de ensino e aprendizagem e o currículo escolar; a concepção de avaliação e o que significa acompanhar as aprendizagens dos estudantes; e o papel fundamental dos instrumentos de coleta de dados para acompanhar e avaliar as aprendizagens dos
estudantes.

(Texto da introdução do artigo)

Autora: Simone Azevedo
Ano: 2016
Parceria: Itaú Social