Este artigo traz um breve panorama da concepção do Programa Myra-Juntos pela Leitura, seus princípios, metodologia e, em especial, como foi adaptado para o cenário virtual, durante a pandemia da Covid-19.

São comuns na comunidade de formadores de leitores receios ou até mesmo percepções negativas sobre a realização de situações de leituras on-line. Mas em março de 2020, surpreendida como todos pela pandemia, a equipe gestora do programa viu-se obrigada a rever o início dos encontros presenciais entre voluntários e estudantes, que caracterizavam a ação nuclear do programa, em torno do quê se organizava toda a estrutura do programa: a seleção dos voluntários, a formação desse grupo, a relação com as escolas, a seleção dos estudantes.

Começou-se então a discussão sobre como fazer a adequação para o formato on-line. Estavam muito presentes então aqueles receios que acompanham os formadores de leitores: tememos a diminuição de vínculo entre o voluntário/mediador e a criança; um possível afastamento do livro físico; maior possibilidade de dispersão por parte das crianças, dentre outros.

Neste artigo, Ana Paula Lopes Leme, especialista em literatura e formadora do Myra, relata a sua observação de uma das sessões de uma dupla que se constituiu nesse período e revela a potência dessa relação, cuidada pela equipe com o amparo da metodologia do programa, formação e apoio aos voluntários, e acompanhamento das sessões.

A autora relata como, mesmo neste contexto virtual, em que dificuldades se impõem, principalmente pelo afastamento físico entre as duplas, como boas escolhas intencionais, associadas a uma escuta generosa podem proporcionar comentários e percepções, por parte da criança, que refletem o seu protagonismo no processo da leitura compartilhada e assim contribuir para o seu avanço na formação leitora.

Ana Paula Lopes Leme é livreira especializada em literatura para crianças e jovens há 18 anos e atua como mediadora de leitura no Programa Myra desde 2019. Pedagoga formada em 2002 pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas de Gurupi no Estado do Tocantins, é também especialista em literatura para crianças e jovens pelo Instituto Vera Cruz. É fundadora da empresa Movimento Literário e atua como assessora literária em escolas.

O Myra parte do pressuposto da literatura como um direito, e se destina  prioritariamente a crianças de 4º a 6º anos do Ensino Fundamental, de escolas públicas brasileiras, que possuem necessidades de aprimorar o desenvolvimento de competências leitoras.