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16/01/2019

Manifesto de educadores alerta para risco em aposta em método único e ‘milagroso’ de alfabetização

A Comunidade Educativa CEDAC assinou, juntamente com outras entidades, a carta aberta da Associação Brasileira de Alfabetização (ABAlf) ao Ministro da Educação, Ricardo Vélez, pedindo a manutenção da pluralidade no debate sobre as concepções e métodos de alfabetização.

A manifestação, divulgada no dia 14 de janeiro, se dá no momento em que o governo federal põe em xeque métodos de alfabetização consolidados no País. Carlos Nadalim, novo Secretário de Alfabetização, criticou métodos de ensino construtivistas (que consideram a criança como construtora do conhecimento e o aprendizado do sistema de escrita de forma integrada com o uso social da leitura e escrita) e atribuiu a essa abordagem o alto analfabetismo funcional (quando a pessoa reconhece as letras, mas não consegue interpretar textos simples). Nadalim defendeu como alternativa o “método fônico”, que apresenta as crianças às letras e aos sons da fala antes de iniciá-las em atividades com textos. Veja reportagem publicada pela BBC News Brasil: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46863916?ocid=socialflow_facebook

As entidades afirmam que há uma ideia amplamente difundida, porém errônea, de que a alfabetização não avança no Brasil. A carta diz que essa conclusão equivocada resulta da análise isolada de índices, “que desconsidera uma comparação essencial entre séries históricas”. “Por exemplo, do final do século XIX até as primeiras décadas do século XXI passamos de 17,7% de alfabetizados (primeiro censo de 1872, sem computar a população escrava) para 93% da população com 15 anos ou mais de idade (IBGE, 2017).

A carta também faz referência ao sólido e vigoroso acúmulo pedagógico e científico construído na sociedade brasileira nas lutas que priorizaram a alfabetização. “Nessa construção, consolidou-se uma pedagogia da alfabetização, que não nega sua faceta fonológica e traz evidências de que, para ensinar a escrita alfabética, todos os métodos tiveram que lidar com as lógicas que compõem o sistema alfabético: as letras, os sons, as sílabas e suas relações. Assim, não existe apenas um método para essa abordagem” diz o texto.

“A mesma história prova que todos esses elementos constitutivos do processo de apropriação da linguagem escrita precisam ser tratados de forma sistemática e articulada no ensino, considerando o que sabemos sobre os objetos que ensinamos, os sujeitos – como vivem, o que são, o que sabem e como aprendem – e os contextos de uso da escrita, porque quanto mais sentido tiverem as palavras e textos, mais alcançamos os sujeitos da aprendizagem e melhores condições lhes serão asseguradas para atuar como cidadãos.

As entidades alertam para os riscos de uma aposta única em uma solução supostamente milagrosa às custas do abandono de todos os outros. “Em termos metodológicos, a história da pedagogia nos mostra que cada vez que um ‘método milagroso’ foi anunciado, na mesma proporção, ocorreu a negação do acúmulo prático e teórico que permitia ver os limites e possibilidades de cada um deles. O retorno a uma única metodologia, aplicada em algum contexto específico, não respeita evidências históricas de seu relativo sucesso para alguns e relativo fracasso para outros, em dada época. Por esse motivo, a Constituição Federal, no seu inciso III, art. 206, sabiamente, determina que o ensino será ministrado com base no pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.”

“A disputa entre concepções e métodos não pode obscurecer a finalidade de alcançarmos, por todos os meios, os sujeitos e grupos que têm direito de se alfabetizar. Nessa perspectiva, faz-se urgente dar continuidade ao que vimos construindo ao longo da história da alfabetização neste País, visando promover ações, projetos e programas que se constituam como políticas de Estado e, dessa forma, não possam sofrer descontinuidades. Reiterando nosso compromisso de assegurar que a alfabetização seja prioridade compartilhada por grupos da sociedade civil, gestores e servidores públicos, e assumindo uma vez mais, nosso dever como pesquisadores, especialistas da área, servidores públicos que vêm colaborando historicamente com as políticas estatais e com os alfabetizadores brasileiros, colocamo-nos à disposição para estabelecer um diálogo com V. Exa. e sua equipe, responsável pela Secretaria de Alfabetização, para discussão e proposição de soluções para a política de alfabetização no País.”

Para ler a carta na íntegra, acesse o link:

http://www.anped.org.br/sites/default/files/resources/manifestoalfabetizacao_janeiro2019_final.pdf

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