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Foto de um homem sentado em uma cadeira na frente de uma sala de aula segurando um livro. No chão, há um grupo diverso de crianças olhando pra ele.
30/01/2025

Formação leitora: pessoas adultas precisam conhecer os livros que lerão com as crianças

Foto de um homem sentado em uma cadeira na frente de uma sala de aula segurando um livro. No chão, há um grupo diverso de crianças olhando pra ele.

Ao ler para uma criança, as pessoas adultas assumem o papel de mediadoras/es e formadoras/es e, para essa experiência ser rica e despertar o prazer da leitura e o apreço pelos livros, é essencial conhecer as obras literárias que farão parte do acervo cultural de vida das crianças. Isso implica uma análise cuidadosa, sensível e criteriosa no momento de escolha dos títulos que irão ler ou oferecer a elas.

É o que explica a coordenadora pedagógica na Roda Educativa Juliana Piauí, responsável pela coordenação do Projeto Pequenos Leitores, resultado de uma parceria entre a FTD Educação e a Roda. “No momento de escolha do livro, é ainda comum que muitos adultos se fixem na temática. ‘Eu gostaria de uma obra sobre este ou aquele assunto’, mas é necessário pensar que outros aspectos são importantes. Além do tema – a que realmente é preciso estar atento, de forma a permitir às crianças o contato com pautas que expressem as diversas experiências humanas e de demais seres viventes e existentes – é necessário olhar também para a forma como as histórias são contadas: será que elas aguçam a imaginação, o espírito crítico e criativo? Será que enxergam as crianças como capazes, sensíveis e inteligentes?”.

Para Juliana, cada elemento que constitui um livro (capa/contracapa, ilustração, texto etc.) revela, de algum modo, certo paradigma de infância. “Vai ter, por exemplo, aquele livro que é puro pretexto para ensinar as crianças a internalizar regras sociais, reforçando comportamentos que os adultos esperam que elas tenham. Livros com palavras e textos rasos que acham que é preciso ‘facilitar’ (ou melhor, esvaziar) seu conteúdo literário para que a criança seja capaz de entender. Livros que induzem a que conclusões as crianças devem chegar, com pouca ou nenhuma margem para diferentes conversas e interpretações. Tendo a achar – e não é só achismo, já tem uma literatura crítica que fala isso – que esse tipo de esvaziamento de alguma forma pode levar as crianças a uma compreensão reduzida da vida, da fantasia e da realidade”, alerta Juliana.

Boas escolhas literárias

Por outro lado, há também livros que geram impulsos, que instigam o pensamento, a imaginação e as sensações. “Geralmente, essas obras não estão comprometidas com uma interpretação única do lido. A porta não se fecha com a última página. Ao contrário, a história encontra morada no pensamento dos leitores. Títulos assim desafiam as crianças a conhecerem novas palavras e fazem do texto trama, para que, como em um jogo, as crianças possam saborear aventuras, mistérios e desvendamentos”.

Nessas obras, as ilustrações não se limitam a uma ideia de que quanto mais colorido melhor, de que obras destinadas aos meninos têm predominância de azul, e para as meninas predominância de rosa. “Quando essas pré-definições têm maior peso na escolha do livro, isso pode ser um forte indício de que há uma moralidade adulta operando na escolha do livro para criança”.

Apesar de parecer difícil, Juliana garante que não é necessário ser um especialista no assunto, apenas procurar olhar com atenção o que está sendo disponibilizado às/aos pequenas/os. Observar e escutar os interesses e preferências das crianças também é importante para a construção de sua autonomia, de modo que elas não fiquem constantemente subordinadas a uma escolha que lhe é externa.

Atualmente, contamos com instituições de referência no assunto que indicam critérios interessantes de escolha de livros, além de boas dicas de títulos. “Vivendo em um país em que um grande contingente da população ficou excluído da literatura, ter instituições sérias que possam respaldar, com fundamento, essa escolha, é algo a ser levado em conta. Se beneficiam disso também aqueles adultos que tiveram acesso à escola e universidade, por exemplo, pois ter passado por estas instituições, embora possa ampliar a possibilidade de maior contato com a literatura, não garante um olhar crítico, sensível e criterioso na escolha de livros para crianças”, finaliza Juliana.

Foto de mulheres diversas sentadas em volta de uma mesa redonda. Elas observam e manuseiam livros diversos.

Análise dos livros como parte integrante e exercício importante para educadoras/es

Saber identificar o que caracteriza um bom livro e saber analisá-lo é ainda mais importante para as/os educadoras/es que lidam com a formação leitora. Por isso mesmo, a análise criteriosa do que será oferecido às crianças para leitura no espaço escolar é um dos pilares do Pequenos Leitores. O projeto – que acontece desde 2013 e parte da concepção da leitura como um direito para garantir o acesso de crianças de 3 a 5 anos à cultura escrita – tem uma parte de sua formação voltada só para isso, com o tema sendo trabalhado com as/os professoras/es.

No ano passado, ao final da sexta edição do projeto (biênio de 2023 e 2024), as equipes de Potim/SP e Redenção da Serra/SP produziram um documento que registra todo esse aprendizado. Ao todo, foram resenhados 12 livros, levando em consideração temática, narrativa, formato, ilustrações e muitos outros aspectos. O documento, disponível na seção de Publicações do site, pode ser um bom ponto de partida para conhecer novas obras e entender o que observar em um livro antes de sugeri-lo como leitura para as crianças.

Nas indicações, você confere os livros ”O cabelo de Cora”, de Ana Zarco Câmara; ”Pinóquio: o Livro das Pequenas Verdades”, de Alexandre Rampazo; “Contos dos Curumins Guaranis”, de Jeguaká Mirim e Tupã Mirin; “Princesas Negras”, de Ariane Celestino Meireles e Edileuza Penha de Souza; ”Perigoso”, de Tim Warner; “Pedzeré linhas e cores”, de Naná Martins; “Ei, Você! Um livro sobre crescer com orgulho de ser negro”, de Autor: Dapo Adeola; “Tanto, Tanto!”, de Trish Cooke; “Pronto, Foguete, Vamos!”, de Estevão Azevedo; “Solfejos de Fayola”, de Kiusam de Oliveira; “Quem soltou o pum?, de Blandina Franco; e “Rosa”, de Odilon Moraes.

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