Todo ano celebramos neste 15 de outubro o Dia do Professor – que aqui na Roda Educativa vamos chamar de Dia das/os Professoras/es em reconhecimento às educadoras mulheres que afinal de contas são maioria na educação brasileira. Mas você sabe como e por que essa data foi criada? E qual a sua relação com a parlamentar negra Antonieta de Barros? Conversamos com a nossa coordenadora pedagógica Juliana Piauí sobre essa história que precisa ser conhecida. Confira!
Um pouco da história de Antonieta
Antonieta de Barros nasceu em 11 de julho de 1901, na cidade de Desterro, como era chamada Florianópolis/SC naquela época. No contato com alguns jovens que a ensinaram a ler e escrever, ela se alfabetizou tardiamente e, por conta própria, mergulhou no mundo dos livros. Aos 17 anos, fundou o curso particular que levava seu nome, com o intuito de enfrentar o analfabetismo de pessoas adultas que estavam em condição de pobreza. Em 1934, elegeu-se deputada estadual por Santa Catarina, tornando-se uma das três primeiras mulheres eleitas no Brasil. Ela também contribuiu por 23 anos com a imprensa, tendo escrito mais de mil artigos em diferentes veículos, foi a criadora da revista “Vida Ilhoa” e a responsável por redigir dois capítulos da Constituição catarinense, sobre educação e cultura e funcionalismo.
“Em toda a sua trajetória política, ela defendeu a educação para todas as pessoas. E vale destacar que sua atuação social nessa área se deu poucas décadas depois de oficializada a abolição da escravatura. Então, Antonieta foi uma mulher que enxergou na educação uma forma das pessoas se libertarem das condições de exploração e exclusão produzidas pelo sistema colonial escravista. Ela precisou ser forte e ter muita fibra para enfrentar as posições conservadoras do seu tempo, principalmente as ideias vindas de homens brancos das classes políticas e oligárquicas que defendiam que mulher não devia opinar em nada. Imaginem só?! Homens ditando o que é ser mulher e o lugar social delas. E vejam, estamos falando aqui de Antonieta de Barros, uma mulher negra, que, diferentemente das mulheres brancas, ainda teve que enfrentar o racismo”, explica Juliana.
A (co)criação do Dia das/os Professoras/es
O Dia dos Professores foi sancionado por Dom Pedro I em 15 de outubro de 1827, por meio de um decreto imperial e era comemorado informalmente. O documento foi um marco na criação de um sistema público de ensino elementar no Brasil, mesmo que tenha enfrentado muitas dificuldades para ser implementado, registrando informações como a descentralização do ensino, o salário dos professores e sua contratações, e as matérias básicas que as crianças deveriam aprender (para os meninos, leitura, escrita, as quatro operações de cálculo e as noções mais gerais de geometria prática; para as meninas, eram excluídas as noções de geometria, o foco estava no ensino básico e nas orientações de como se preparar para o papel tradicional de esposa e mãe).
Mais de 100 anos depois, em 1947, ocorreu a primeira comemoração oficial de Dia das/os Professoras/es. A reunião organizada pelo professor Salomão Becker, em uma escola de São Paulo, aconteceu de forma simples, com o intuito de dar uma pausa no longo ano letivo e oferecer um momento de descanso e reflexão sobre o trabalho das/os educadoras/es. A ideia teve grande aceitação, e o evento se repetiu nos anos seguintes, atraindo mais atenção e adesão de outras escolas e docentes. Isso contribuiu muito para a consolidação da data como um marco de celebração e valorização da profissão.
No ano seguinte, a data foi oficializada como feriado estadual em Santa Catarina pela lei nº 145, de 12 de outubro de 1948, homologada pelo então governador José Boabaid e de autoria da nossa personagem principal: Antonieta de Barros. Finalmente, em outubro de 1963, o Dia dos Professores foi oficializado no Brasil todo pelo então presidente da República João Goulart.
“Que cada vez mais crianças, adolescentes, pessoas adultas e educadoras/es deste País possam conhecer a história do 15 de outubro, Dia do Professor, lembrando e celebrando a existência daquelas/es que, do passado ao presente, lutaram por justiça e libertação a partir da educação. Viva Antonieta de Barros!”
Juliana finaliza citando o cordel que Jarid Arraes dedica à Antonieta em seu livro “Heroínas Negras Brasileiras: em 15 cordéis”:
‘Por inteira a sua vida
Viveu como educadora
Jornalista ou deputada
Se manteve ensinadora
Com lições educativas
E também libertadoras’.
Jarid Arraes
Fontes:
Antonieta de Barros, a parlamentar negra pioneira que criou o Dia do Professor. El País
Conheça a história por trás do Dia dos Professores. Vivescer
Foto: Memorial Antonieta de Barros