Importante ler o artigo de André Lázaro sobre o que foi difundido falsamente como “kit gay”, em referência a um plano, que nunca saiu do papel, de ter um material de apoio a professores para combater a homofobia nas escolas, no governo de Dilma Rousseff.
Em texto publicado no jornal O Globo intitulado “Repetir enganos não cria uma verdade”, Lázaro, que foi Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC de 2007 a 2010 e participou do Programa Brasil Sem Homofobia, explica que o que houve foi um esforço conjunto de ministérios para o combate à violência e à discriminação contra LGBTs e promoção da cidadania homossexual.
Lázaro esclarece que existiu a iniciativa de produzir um material de apoio para a formação de professores em temas relacionados aos direitos LGBT, como o combate à violência e ao preconceito no ambiente escolar, mas que, por pressão de grupos conservadores, a então presidente Dilma vetou a proposta, e os materiais nunca saíram da gaveta.
“Nunca existiu kit gay nas escolas. Não houve material com a intenção de mudar a orientação sexual de ninguém. Não houve o nono seminário LGBT infantil”, afirma Lázaro.
Ele se refere às declarações feitas em agosto pelo então candidato à Presidência Jair Bolsonaro, eleito no último domingo, em entrevista ao Jornal Nacional (TV Globo), dizendo que houve tal evento e associando-o ao MEC, quando, na realidade, o que houve foi um encontro, em 2012, organizado pela comunidade LGBT, com apoio da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT, com foco na temática Sexualidade, Papéis de Gênero e Educação na Infância e na Adolescência”.
Na entrevista, o novo presidente do Brasil também mostra o livro “Aparelho sexual e cia”, de autoria do suíço Philippe Chappuis e da francesa Hélène Brullerque, que não fez parte do material produzido para o Escola sem Homofobia. O livro jamais fez parte de programas do MEC; foram comprados 28 exemplares por um programa do Ministério da Cultura e distribuídos para bibliotecas públicas.
A Comunidade Educativa CEDAC lamenta que, diante de tantas questões importantes para discutirmos na educação, o espaço público seja usado para discutir informações falsas e repudia qualquer tipo de preconceito, seja ele por orientação sexual, ou de qualquer outra natureza. Reitera que a sexualidade é tema a ser tratado com cuidado, mas honestidade, com as crianças e adolescentes a partir do momento em que pedem orientação sobre esse assunto. A interdição de temas considerados tabus só deixa a criança sozinha em um assunto em que a ignorância é perigosa, ou, como disse a autora do livro citado, em entrevista ao jornal El País, “uma pessoa bem informada saberá se proteger, enquanto que alguém que vive na ignorância se torna uma presa fácil.”
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Foto: José Cruz/ABr